papo lotado

tá ligado o rafa - próximo desce - que rafa - pode fecha - aquele da rua 2 - pode seguir - ah sei, que que tem - gente, vamo dá um passinho pra frente - nunca mais colou né - fechou - pode crê, mas aí... - abre, motorista - mas aí, o que? - terminal cachoeirinha - não curtia ele - mais um passinho, por favor - também, ó - cobra uma - já é, o que passou passou - ponto final - demoro. falou!

bixiga

se deu vai vai, na são vicente
fevereiro parece não tem fim.
vive o ano inteiro prá na quarta feira acorda no melhor estilo querubim.

tradição:

cantina, festa de Achiropita - mas quem nunca disse Queropita...?
A
rmandinho e seu bolo quilométrico disputado por centímetro.

tradição que me faz lembrar
do seu filho mais ilustre
que disse morar em Jaçanã.
logo o poetinha disse que São Paulo é o túmulo do samba,
só esqueceu que é do Bixiga que veio o Adoniran.

motoboy

vida de motoboy
varia no tempo.
no trabalho, tudo é para
ontem.

voa nas ruas
viaja pelo centro.
na vida,
é incerto o
amanhã.

passa
por mim como
se corresse atrás do vento.

rodoviária

ponto de chegada e de partida.
de idas sem voltas
e voltas arrependidas.

quantas vidas se cruzam num guichê
de rodoviária e nunca mais sem
encontram?
e tão pouco será dada falta.

histórias que ali se acabam
que se iniciam
ou que esperam para apenas
continuarem a serem seguidas.

vão malas cheias de roupas,
presentes e esperanças.
fica o choro vazio da tristeza
das despedidas.

de quantas sensações
temporárias
são feitos cada banco, ônibus e corredor
daquela rodoviária?

vizinho

conhecemos seus horários,
seus gostos musicais,
vemos suas manias,
seus constantes bacanais.

quanta intimidade
e aproximação!
mas tão pouco sabemos
a sua profissão.

sei mais da zona leste
do que cada qualquer
canto daquela quitinete.


tem barulho,
som alto,
alegria,
só não tem bom dia.


tem
família
vida,
saudade,
só não tem cumplicidade.

ele lá
eu aqui
separados por uma barreira
difícil de cair.

religião

no princípio era o verbo,
do padre Anchieta.

que subiu a serra pregando
o evangelho de um deus,
que o tupi guarani teve que
engolir como se fosse seu.

depois vieram os sujeitos,
cheios de erros de concordância
e de variância.

achieta virou estrada,
a aldeia vive logada
e bola de neve é igreja
da galera descolada.

mas em são paulo
o verbo divino
continua sendo sagrado.
virou uma travessa da avenida santo amaro.

brás

brasil;
brás.

quantas famílias vêem no Brasil
o sonho de uma vida melhor,
e encontram no brás
um inferno só?

cadê o brás dos livros de
Antonio de Alcântara Machado?

hoje é made in brás,
com um pouco de bolívia e muito de suor.
tudo aqui é barato é só alegria
é três por real
é um paletó por uma vida mais sofrida.

mas que sonhos habitam o brás:
os de crescer na vida
os consumistas ou
os de voltar à terra natal?